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A Netflix vai acabar com a educação física?

No fim de dezembro, a Netflix divulgou que disponibilizaria aulas em vídeo do programa de treinamento da Nike. É uma parceria entre gigantes. A Netflix é uma das maiores empresas de entretenimento do mundo, enquanto a Nike é a maior fabricante de equipamentos esportivos do mundo. Seria o início do fim da Educação Física?

Discussões sobre o assunto nas redes sociais nas últimas semanas estiveram um tanto inflamadas. Há razão para pânico?

Naturalmente, ninguém sabe o que vai acontecer. O futuro é sempre indeterminado. No entanto, há cenários mais ou menos prováveis.

Possivelmente, o público que pode se interessar por tais vídeos não é o mesmo que já frequenta espaços de prática de atividades físicas ou que contrata os serviços de profissionais de educação física. Nesse sentido, a Netflix possivelmente não é um concorrente direto de profissionais de educação física — pelo menos não no curto prazo. Dificilmente alguém deixará de frequentar uma academia de musculação ou um grupo de corrida de rua para fazer aulas em vídeos em casa. Por outro lado, pode ser que algumas pessoas sedentárias (provavelmente poucas) se animem em iniciar uma atividade física por estes novos meios.



Todavia, assim como acontece com a maioria das esteiras e bicicletas ergométricas, adquiridas com entusiasmo no princípio, mas logo convertidas em varal para estender toalhas molhadas, estes adeptos de primeira hora tenderão a voltar ao sofá para seguir assistindo suas séries preferidas.

Dentre aquela pequeníssima minoria espartana que conseguir se manter firme nos novos programas de atividade física da Netflix, pode ser que brote em seus corações um entusiasmo sincero e perene por atividades físicas, a ponto de algumas delas desejarem iniciar outras modalidades que não apenas os exercícios em vídeos . Nesse sentido, os programas da Netflix podem ser até uma porta de entrada para a atividade física em geral, de modo que profissionais de educação física talvez devessem encarar com otimismo essas últimas notícias. A Netflix bem poderia estar pavimentando o caminho para futuros novos clientes de profissionais de educação física, mas que estão atualmente fora do seu alcance, dado os seus apegos pela vida sedentária.

Há o caso dos serviços de atividades físicas em vídeo oferecidos por outras empresas . Aqui talvez haja mais motivos para se preocupar. A plataforma “Queima Diária”, por exemplo, oferece rigorosamente o mesmo serviço que a Netflix está oferecendo agora. Não por acaso, a “Queima Diária” se anuncia ou se anunciava até pouco tempo atrás, como a Netflix das atividades físicas. Poderá a “Queima Diária” resistir a concorrência com a gigante norte-americana do entretenimento?

Mesmo aqui, entretanto, a coisa pode ser um pouco mais complicada. Geralmente, plataformas como a “Queima Diária” e várias outras do mesmo tipo contam com profissionais de educação física altamente carismáticos e comunicativos à frente de seus principais programas.

Esses profissionais, dotados de um raro talento, têm a capacidade de desenvolver relacionamento com o seu público, mesmo à distância e sem conhecê-los pessoalmente. Os consumidores trocariam esse sentimento de intimidade por um serviço em que aparecem desconhecidos na tela? Um John Maguire qualquer poderá exercer sobre os consumidores brasileiros o mesmo fascínio magnético que uma Gabriela Cangussu ou uma Carol Borba? O tempo nos dirá.

Em todo caso, a Netflix não é a única e nem possivelmente a mais preocupante ameaça tecnológica que pesa sobre o presente e o futuro da educação física. Há um episódio especialmente dedicado ao uso dos robôs e da inteligência artificial no setor dos esportes e das ativididades físicas disponível em Educação Física S/A — um podcast sobre trabalho, carreira e negócios (no You Tube, no Spotfy e no Google Podcast). Sugiro aos interessados.


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Cleber Dias é professor da Universidade Federal de Minas Gerais, onde coordena o Grupo de Pesquisa em História do Lazer (Hisla).

 
 
 

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