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A NOVA VÁRZEA BRASILEIRA

Foto do escritor: Cleber DiasCleber Dias


Cleber Dias

Wecisley Ribeiro Espírito Santo


No Brasil, desde o início do século passado, o futebol é o esporte mais popular do país. Pesquisas de opinião na última década, contudo, têm revelado aumento do desinteresse do brasileiro pelo futebol. Em 2009, 18% de entrevistados por uma pesquisa do Data Folha diziam não ter interesse pela Copa do Mundo. Em 2018, esse percentual foi de 42%.


De fato, durante as Copas do Mundo de futebol, já não se nota o mesmo entusiasmo de outrora. Já não se vê tanta mobilização comunitária para enfeitar as ruas com bandeirinhas e pinturas, tal como se via antes. Os estádios de futebol, por outro lado, vêm se modernizando, o que implicou aumento do valor dos ingressos, dificultando o acesso de torcedores mais pobres. A própria arquitetura das novas arenas multiuso, que é o nome pelo qual chamam agora os velhos estádios, desestimulam ou até mesmo tentam proibir arraigados hábitos dos torcedores, como assistir as partidas de pé. Sob o peso da especulação imobiliária, as áreas disponíveis nas cidades para campos de futebol se tornaram mais escassas também, restringindo possibilidades para a prática. Há muito já se fala de uma hipotética morte do futebol de várzea, não obstante o dinamismo dos campeonatos amadores realizados diuturnamente Brasil afora.


Apesar dos prognósticos pessimistas, tal como ocorre em muitas outras áreas, quem quiser entrever o futuro do futebol no Brasil precisa olhar para as favelas, comunidades e periferias do país. Ali, renovando o dinamismo e contrariando as previsões, a várzea se reinventa e esboça o futuro do esporte no pais.


No Nordeste brasileiro, popularizou-se recentemente uma nova modalidade de jogo chamada “1 contra 1”, conhecida também como “1 pra 1”. Basicamente, é uma espécie de futebol adaptado, em um campo menor, onde apenas um jogador enfrenta outro, cada um deles apoiado por um goleiro. Geralmente, as partidas duram 40 minutos, com dois tempos de 20 minutos. O jogo é nervoso, frenético, com jogadores imprimindo velocidade ininterrupta às partidas. Jogado em campos de futebol-society com grama sintética ou às vezes em campos de terra, como aqueles usados em torneios de várzea mais tradicionais, a bola quase nunca para. A usual proximidade da grade que cerca campos desse tipo não permite que a bola saia dali. O campo acaba funcionado como uma espécie de ringue cercado com grades, mais ou menos como o octógono do MMA.


O mito de origem da coisa aponta para as favelas do Recife como local de nascimento. Um dos principais divulgadores da modalidade é Ney Silva, conhecido nas redes sociais como “a voz da várzea” (alguns o chamam também “o Galvão Bueno da várzea”). Antes de seguirmos com o “1 pra 1”, vale uma digressão sobre a história de Ney Silva.


Filho de mãe solteira, Ney Silva nasceu e cresceu no Recife, na comunidade do Tejucopapo. Por volta dos 17 anos, migrou para São Paulo, onde trabalhou como entregador. Depois disso, alistou-se no Exército, onde serviu como soldado. Fora do Exército, tornou-se vendedor ambulante nas ruas do Recife, onde comercializou CDs piratas e pen-drives com músicas. Segundo ele próprio conta, foi durante o período como vendedor ambulante que venceu a timidez e desenvolveu desembaraço diante do público. “Foi quando eu perdi a vergonha com o público e até me ajudou agora”, ele avalia retrospectivamente.


Obrigado a anunciar seus produtos, Ney Silva teve que desenvolver desenvoltura na comunicação pública. “Galera, olha o pen-drive, olha o pen-drive. Um é 30, dois é 50; um é 30, dois é 50. Mais de 200 pastas. Pen-drive de 8 gigas, de 12 gigas, de 16 gigas, você escolhe”. De algum modo, essas experiências estavam lhe talhando o espírito empreendedor e o desenvolvimento de “soft skills”, como diriam na linguagem pomposa e anglicizada do mundo corporativo.


Buscando alternativas para elevar sua renda, Ney Silva começou a enxergar oportunidades na organização de campeonatos de futebol amador. Por brincadeira ou na zueira, como ele próprio diz, começou também a narrar momentos das partidas nas rodas de conversa que costumam se seguir aos jogos, momentos popularmente chamados de “resenhas”. Há um vídeo dele em uma dessas resenhas, narrando em um bar momentos e jogadas das partidas há pouco realizadas, fazendo pilhéria, enquanto finge que uma garrafa de cerveja vazia é um microfone. Todos riem e a coisa toda parece bem divertida. “Zuada”, dizem os pernambucanos, enquanto gargalham.


Com o tempo, Ney Silva foi se concentrando em produzir conteúdo sobre as partidas do futebol de várzea do Recife, o que incluía narração de jogos ou de trechos de jogos, além de entrevistas com jogadores. Em particular, Ney Silva concentrou-se em partidas decisivas, como ele mesmo explica. “Eu cobria muito campeonato de várzea, cobria muito [jogos] finais, porque é um momento especial, todo mundo quer ver, é uma decisão. Aí eu percebi que tinha muito conteúdo, porque a várzea aqui em Recife é muito forte. Quase todo final de semana tem uma semifinal ou uma final”.


A opção não se deu abruptamente ou ao acaso. Na verdade, a opção foi resultado de observações atentas e cumulativas da realidade ao seu redor, tanto quanto do que outros influencers digitais iam fazendo na internet e ainda da leitura de livros de autoajuda sobre empreendedorismo. Assim, Ney Silva foi elaborando um modelo de negócios próprio e inovador. “Decidi explorar a várzea porque tem muito conteúdo bom para desenvolver dentro dela. Quando o campeonato acaba, o bairro todo quer ver como foi. Eu via a várzea, à época, como um oceano azul em que só eu nadava”.


Diante de uma cultura vibrante e rica de conteúdo, Ney Silva seguiu narrando partidas e entrevistando jogadores à sua maneira, investindo e enxergando oportunidades onde muitos veem apenas pobreza, escassez e dificuldades. Conforme ele próprio avalia, “a maioria fala do futebol profissional. Falar de várzea e ter essa amplitude toda é nadar contra a maré”.


Suas postagens começaram a fazer sucesso nas redes sociais, o que lhe angariava seguidores, ao mesmo tempo em que dava mais visibilidade para aquele universo. A repercussão pública do circuito de futebol de várzea do Recife promovida por Ney Silva ampliou o alcance de bairros, campeonatos e jogadores, tais como Leo do Pina, Mané, Ceará ou Pedro Maycon – o famoso quadrado mágico da várzea de Pernambuco. O esforço de Ney Silva, em resumo, beneficiava-o, ao mesmo tempo em que gerava benefícios para outros.


Nos stories da página de Ney Silva no Instagram, que conta atualmente quase um milhão de seguidores, há momentos lendários. Em um deles, Ney Silva narra uma cobrança de falta realizada por Leo do Pina, jogando à época na equipe Paris Saint Germain, em partida da Pelada do Chocolate, em uma praia do Recife. De dentro do campo, com a proximidade que só a várzea permite, Ney Silva tenta incentivar Leo do Pina com palavras, enquanto o jogador se prepara para a cobrança: “Mostra que quem sabe faz ao vivo; pelo amor de Deus”.


Depois da bem-sucedida cobrança da falta, registrada de ângulo privilegiadíssimo, em enquadramentos que só jogos de videogames costumam permitir, a característica voz fina de Ney Silva, com o seu típico sotaque pernambucano, demonstra com inequívoco entusiasmo sua admiração pelas habilidades do jogador: “tu é pica, porra”.


Em outra passagem antológica, talvez a mais famosa de todas, Ney Silva narra uma disputa de pênaltis. “Se perder acaba, se fizer continua”, anuncia, traduzindo a dramaticidade do momento. Ao passo que o jogador corre em direção a bola, Ney Silva inicia a narração: “Amauri na bola. Amauriiiiiii...”. O vídeo então mostra Amauri correndo em direção a bola, até isola-la por sobre o gol, ao que Ney Silva reage, finalizando a narração, “me ajuuuude Amauriiii”. O vídeo viralizou na internet e a expressão “me ajude” virou bordão.


Ney Silva agora investe em organizar eventos de “1 pra 1”. Ao invés das habituais medalhas e troféus, os vencedores conquistam um cinturão. A inspiração, segundo ele revela, veio dos torneios de MMA. Nota-se também qualquer coisa de uma estética de jogos de videogames nesses eventos. Um recente torneio realizado em um grande ginásio do Recife (o Geraldão) chamou-se “Legends”. Há também qualquer coisa de batalha de MCs nesses eventos. Sintomaticamente, a música que acompanha os vídeos de divulgação dos torneios organizados por Ney Silva, de autoria de Nuno Boladão e Flavinho Pancadão, é um rap, ou melhor, um brega-funk ou um funk do sertão.


“Ney Silva mandou avisar / que o jogo agora é à vera / ninguém quer saber de Brasileirão / É 1 a 1 que só joga as feras / É 1 a 1 direto das favelas / A torcida tá preparada / chegou a hora marcada / muito dinheiro envolvido no confronto / as apostas foram encerradas / olha a primeira jogada / hoje vai sair faísca nesse campo / aqui só entra os de verdade / bom na defesa e no ataque / se cair não pode ficar no chão / levanta vai na força e na raça / use sua estratégia tática / pra poder gritar que é campeão”.



O formato do “1 pra 1” utiliza-se de recursos mais acessíveis que os campos de futebol, tais como campos menores de “futebol-society” com grama sintética, estruturas geralmente privadas e disponíveis para aluguel em diversos bairros de cidades brasileiras. Além disso, o jogo privilegia os momentos mais emocionantes de uma partida de futebol: dribles em velocidade e gols, muitos gols. Assistir a uma partida de “1 pra 1” é quase como assistir apenas ao que muitos brasileiros consideram ser os melhores momentos de uma partida de futebol.


Outro elemento importante das partidas de “1 pra 1” são as apostas. Partidas com jogadores consagrados naquele universo podem atingir cifras de 40 mil reais ou mais. Não por acaso, Ney Silva ocupa agora o honorário lugar de “embaixador dos esportes da sorte”. O título, naturalmente, foi conferido por um site de apostas esportivas que agora apoia e patrocina “a voz da várzea”. O rosto de Ney Silva já foi até estampado em outdoors do Recife por ocasião da realização de um evento de “1 pra 1” na cidade. Além disso, ele conta agora também com o patrocínio regular de 12 marcas, afora outras eventuais.


Até alguns jogadores brasileiros de futebol profissionais famosos, ricos e já consagrados nos gramados europeus, como Neymar, Daniel Alves e Davi Luiz, acompanham eventualmente pela internet a movimentação da várzea do Recife. Neymar já até deixou mensagem de vídeo na página do Instagram de Ney Silva. Em evento de “1 pra 1” recentemente promovido por Ney Silva no Recife, ex-jogadores como Falcão e Zé Roberto chegaram mesmo a tomar parte da competição. Ney Silva dimensiona com enorme precisão sociológica o significado dos acontecimentos que ele mesmo ajuda a estruturar. “Antes eram os peladeiros que acompanhavam os profissionais. Agora são os profissionais que acompanham os peladeiros. Isso é revolucionário”.


A estrutura do jogo é, a um só tempo, causa e consequência de valores caros do universo que cerca o jogo. Os jogadores driblam uns aos outros porque é inescapavelmente necessário. Simplesmente não há outra maneira de avançar em direção ao gol adversário, dado que não há companheiros a quem passar a bola. Essa estrutura, portanto, incentiva ou exige mesmo o drible. Assim, o ambiente das partidas de “1 pra 1” celebra e atribui valor intrínseco ao drible.


Se no futebol a exibição de habilidades por meio de dribles é às vezes tida como desnecessária e até desrespeitosa, no “1 pra 1” isso é não apenas admitido, como é também exaltado. Tanto quanto possível, espera-se que os jogadores de “1 pra 1” passem a bola por entre as pernas dos adversários e realizem outros dribles desconcertantes. Com efeito, a exibição lúdica de virtuosismo e a ostentação jocosa de superioridade técnica cristaliza-se como parte fundamental dos valores que presidem aquele espetáculo.


O surgimento de um circuito comercial ao redor desse esporte dependeu de adaptações que conformassem o jogo às necessidades dos ambientes em que eram praticados, bem como ao gosto das classes populares, que então participam, assistem, apoiam e financiam as iniciativas. Além disso, o início da estruturação comercial dos circuitos ao redor desse jogo está ligado ao gênio talentoso, criativo, ambicioso e carismático de figuras de origem popular como Ney Silva. Ao contrário da exclusão de grupos populares que a modernização dos estádios de futebol realizada pelos cartolas dos estamentos superiores promove, a criação do “1 pra 1” procura fazer justamente o contrário: incluir e atender as necessidades desse público rejeitado pelos administradores das novas arenas multiuso e premidos em seus tradicionais espaços de lazer pela especulação imobiliária, ampliando e fortalecendo os elementos da cultura popular que já existem.


Ao invés de tentar reformar hábitos e costumes, portanto, como tentam fazer os administradores das novas arenas multiusos, os organizadores de eventos de “1 pra 1” compatibilizam a estrutura dos jogos às predileções e preferências do público. É por isso que o “1 pra 1” tem feito e há de fazer ainda muito mais sucesso. Não é hostil à maioria e ainda gera oportunidades de ganhos para alguns, especialmente pela dinamização das cadeias produtivas locais implicadas no jogo. Eventos de “1 pra 1” com esse mesmo formato praticado no Recife já acontecem no interior de Pernambuco, na Paraíba, no Ceará e em outros cantos.


Quando perguntado qual seria o limite para os campeonatos de “1 pra 1”, Ney Silva exibe sua ambição sem rodeios: “o limite é o mundo”, ele diz. Que seja. O sucesso do “1 pra 1” seria o triunfo do canibalismo cultural sincrético e criativo que tanto caracteriza o Brasil, combinando influências do futebol, das lutas de MMA, das batalhas de MCs, da estética dos jogos de videogames, com a dinâmica linguagem atual da internet, resultando em uma coisa nova, que claramente já não é futebol, nem MMA, nem batalha de MCs. Seria também o triunfo da ambição empreendedora e inclinada ao trabalho por conta própria, que tanto caracteriza as nossas classes populares, bastante avessa ao assalariamento e ao típico sadismo patronal das relações trabalhistas no Brasil – para o arrepio de importantes frações das elites intelectuais, especialmente muitos sociólogos e militantes de esquerda.


Sob o ímpeto ambicioso do empreendedorismo popular, a cultura é convertida em ativo econômico, fertilizando e renovando, ao mesmo tempo, a dinâmica da própria cultura. A conversão da cultura em negócios é coisa antiga, como se sabe. Há muito tempo já empresários exploram economicamente a cultura do povo. A relativa novidade aqui está no protagonismo assentado nos próprios estratos populares, que exploram economicamente, eles mesmos, a cultura articulada por eles próprios.


No campo econômico, no modelo atualmente vigente nos torneios de “1 pra 1”, as classes populares não aparecem apenas como empregadas ou consumidoras de clubes e veículos de comunicação controlados por membros da elite. No modelo atualmente vigente nos torneios de “1 pra 1”, as classes populares dirigem um número maior de elos dessa cadeia produtiva criada e ainda em grande medida controladas por elas próprias. No campo simbólico, com “1 pra 1”, ao invés de apenas adaptarmos o estilo de jogo praticado aqui às regras criadas alhures, estaríamos estruturando nossas próprias regras, que se orgulha, ao invés de se envergonhar, do individualismo do drible lúdico e jocoso, que em tom de brincadeira desafia e ao mesmo tempo brinca com o adversário. O regime de sociabilidade estruturado e refletido ritualisticamente nesse jogo – a que a literatura antropológica geralmente classifica como agonística – promove e estreita laços sociais cooperativos e de coesão por meio da pilhéria competitiva. Nesse contexto, a zueira ou a zuação, fora ou dentro do campo, é um gesto de afeto, como uma mão estendida à amizade. Tomando novamente emprestado as palavras de Ney Silva, a voz da várzea, isso tudo é revolucionário.


De certo modo, já fizemos algo semelhante com a capoeira e com o MMA. A capoeira, contudo, queda-se ainda refém de uma mentalidade tradicionalista, muito apegada ao passado e um tanto avessa à moderna espetacularização que converte o jogo em dinheiro. É tocante, mas condena vários mestres à pobreza. A lenta sucessão geracional da capoeira pode talvez mudar o quadro no futuro breve, aprofundando a inclusão da prática nos circuitos de uma economia global, o que em todo caso já acontece em alguma medida.


O vale-tudo ou o MMA, por seu turno, concebido nos restritos ambientes das classes médias bem cuidadas da zona sul do Rio de Janeiro, foi ainda apropriado por empresários norte-americanos, que lhe tomaram as rédeas e agora controlam o rumo do negócio. Ao invés de antropofagia e canibalismo cultural, o MMA acabou por representar outra forma de extrativismo. O destino do “1 pra 1”, contudo, está em aberto ainda. Que seja frutífero e virtuoso. Que seja próspero e inclusivo. Que seja do Brasil e do mundo. Que Ney Silva seja o nosso Dana White. São os nossos votos.

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* Mais uma vez, agradecimentos à Rodrigo Silva, explorador astuto e tutor indispensável para alguns dos mais divertidos e interessantes conteúdos da internet brasileira, que apresentou a um dos autores o Instagram de Ney Silva, que então o apresentou ao outro autor, que juntos tentam agora apresentá-lo para várias outras pessoas.


Fontes:


Folha de São Paulo. Cresce desinteresse do brasileiro por futebol, aponta Datafolha. 4 de maio de 2018. https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2018/05/cresce-desinteresse-do-brasileiro-por-futebol-aponta-datafolha.shtml


Leia Já. Ney Silva e a 'febre' do 1 x 1: "o limite é o mundo". 23 de novembro de 2020. https://www.leiaja.com/esportes/2020/11/23/ney-silva-e-febre-do-1-x-1-o-limite-e-o-mundo/


Leia Já. Ney Silva chama de revolucionário o sucesso com o 1x1. https://www.youtube.com/watch?v=dLFC0A9_Uz8&t=89s


Folha de Pernambuco. Ney Silva: dos campos de várzea aos sonhos olimícos. https://www.youtube.com/watch?v=hRPa9vhsi0A&t=142s


JC TV. Ney Silva: conheça a história do narrador fenômeno do futebol de várzea. https://www.youtube.com/watch?v=E4gYAhhryOU&t=290s


Alê Oliveira. Eu dei voz para o futebol 1x1 - Ney Silva. https://www.youtube.com/watch?v=zO3CbF9flzg&t=78s


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