A maior parte das pessoas não quer conhecer os meandros técnicos de sua gestão; quer poder confiar em você para melhorar a vida delas!
Wecisley Ribeiro do Espírito Santo
Comece agora! Entenda a gramática eleitoral! Substitua a crítica pelo pensamento etnográfico! Desloque o foco da denúncia do que está errado para o elogio do que deu certo! Evolua do discurso amargo à gentileza!
Os antropólogos Moacir Palmeira e Beatriz Heredia nos ensinaram há pelo menos uma década: voto é símbolo de adesão. E adesão é vínculo social. Parcela majoritária da população vota no nome erguido por suas redes de afinidade. Não importa o partido, o programa de governo, a biografia política do candidato; importa a história das relações substantivas entre o candidato e a família, a vizinhança, os amigos, a comunidade, o bairro, o time de futebol, o clube, o bloco carnavalesco, a igreja, o grupo do whatsapp.
Aprenda a dinâmica da reprodução familiar das opções futebolísticas e faça o mesmo na sua candidatura eleitoral! Para a maioria das pessoas, o voto não é secreto; declará-lo corresponde a beijar o escudo de seu time. Trata-se de um convite ao interlocutor para que entre na família.
Esta lógica de vicinalidade, parentesco e familiarização opera então apenas na esfera municipal? Não, ela serve para quem quer se eleger presidente da República também. Lula a demonstrou de modo impecável! Os nexos das redes de adesão e afinidade se reproduzem capilarmente, da família à rua, da comunidade ao bairro, da igreja ao município, da prefeitura aos deputados estaduais, destes aos senadores e, finalmente, à presidência, passando pelos tribunais do poder judiciário e pelas federações esportivas.
Quem vota em uma plataforma, um programa de governo, pertence à pequena parcela da sociedade que foi totalmente convencida pelo projeto universalista do Iluminismo. Estes precisam ser persuadidos com argumentos e pensamento crítico. São eles que, em geral, elegem os candidatos de esquerda. Mas, vale enfatizar, são minoritários. E comportam-se como se fossem mais inteligentes que o restante da população; razão pela qual contar com eles é correr o risco de sofrer com o ressentimento geral.
Eis porque tão poucas vezes a história testemunhou um governo democrático com o predominância da esquerda. Na presidência do PT, por exemplo, vigorou uma composição de centro. O discurso crítico é estilística e estruturalmente ofensivo, posto que aponta para os limites do pensamento alheio. De fato, depreciar a inteligência dos demais não é nada democrático! Mas, pior ainda, o pensamento crítico é amiúde míope para as virtudes dos interlocutores. Para vê-las é necessário um olhar etnográfico.
Há, portanto, duas gramáticas eleitorais. Uma predominante, que opera conforme a lógica social da afinidade e da reciprocidade (leia o “Ensaio sobre a dádiva”, candidato, e agradecerá a Marcel Mauss, em 2024); outra minoritária, que obedece ao mito intelectualista do Estado moderno. A primeira vence eleições; a segunda acorda de ressaca na segunda-feira.
Não se trata de desprezar a plataforma eleitoral, mas de entender as condições sociais de sua implementação prática. O professor que faz inimizade com seus estudantes está, no fundo, rasgando o currículo que tanto ama! Portanto, candidato, se a sociedade não se comporta conforme seus sonhos iluministas, não a insulte, tratando-a como ignorante; aprenda você mesmo a sonhar de modo mais inteligente!
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