Há um descompasso entre o que as faculdades ensinam e o que o mercado de trabalho dessa área exige. Já é lugar comum dizer que as faculdades de educação física não preparam para uma atuação profissional competente e bem informada.
As faculdades de educação física praticam uma formação generalista, que tenta ensinar de tudo um pouco, da ginástica artística ao basquete, da natação à musculação, das danças ao atletismo. O mercado de trabalho, por outro lado, crescentemente competitivo, onde mais de 600 mil indivíduos se diplomaram nos últimos 20 anos (crescimento de 516% entre 2000 e 2020), exige saberes cada vez mais especializados.
Para aumentar as chances de sucesso ou mesmo de mera permanência nesse mercado, trabalhadores precisam possuir conhecimentos aprofundados em nichos específicos. Os que não conseguem atender a tais exigências, ocupam os piores postos de trabalho ou são expulsos do segmento, obrigados então a abandonar a profissão, apesar do investimento que fizeram em suas formações.
A maioria absoluta das matrículas na educação física está nas instituições de ensino privadas, que representam mais de 70% do total. Mesmo estudantes de universidades públicas, contudo, investem tempo e recursos na oportunidade de cursarem uma graduação em educação física.
A alternativa ao fracasso pedagógico das faculdades públicas e privadas tem sido formações complementares. Existe uma indústria de cursos e minicursos diversos que prometem capacitações e saberes aplicados que as universidades vergonhosamente se mostram incapazes de oferecer. Assim, além do tempo e dos recursos investidos nas faculdades de educação física, estudantes dessa área se veem obrigados a investir também nesses cursos e minicursos, na esperança de encontrarem ali o que não encontram nas universidades: capacitação para o trabalho.
As carreiras das engenharias há muito tempo buscam meios de adequar seus currículos e modelos de formação às incessantes transformações do mercado de trabalho. Ao invés de um único e genérico curso de engenharia, existem cursos de engenharia civil, química, naval, aeronáutica, ambiental, florestal, de alimentos, de produção, de minas, de sistemas e assim por diante.
Enquanto isso, a educação física insiste em manter vivo no interior de suas faculdades o velho paradigma do Severino – popular personagem cômico que realizava toda sorte de trabalhos, sempre de maneira improvisada e ineficaz.
A tarefa dessa necessária transformação inovadora nos paradigmas curriculares e de formação na educação física deve caber às universidades públicas, que reivindicam o papel de vanguarda do sistema universitário brasileiro. Seria muito triste assistir corporações empresariais tomarem a dianteira desse processo e apontarem as direções do futuro. Para isso, porém, é necessário ousadia e imaginação criativa. Nossos servidores estarão à altura da tarefa?
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